A(S) ROTA(S)

O evento 'Gravel Birds Ultracycling' tem duas rotas: 'Gravel Birds 750' e 'L'Abetarda 330'. A segunda tem uma menor distância e grau de dificuldade, consistindo num loop interior e partilhando grande parte do seu traçado com a rota "mãe". Ambas as rotas começam e terminam em Castro Verde.

A “L’Abetarda 330” foi nomeada em homenagem à mais emblemática ave das estepes alentejanas, a majestosa Abetarda (Otis tarda). Este loop mais curto, mais plural e integrador, é também um convite a todos os que se estão a iniciar no ciclismo de aventura ou que simplesmente (ainda) não se sentem preparados para um desafio demasiado extremo.


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Gravel Birds 750

A Gravel Birds 750 começa e termina em Castro Verde, percorrendo pelo meio uma boa parte do Baixo Alentejo. É uma rota de aventura com elevada exigência física e que atravessa alguns dos territórios mais remotos e isolados de Portugal.

Nas peneplanícies do interior alentejano os caminhos são geralmente bastante fluídos e permitem andamentos rápidos, contrastando com o terreno mais acidentado do Vale do Guadiana e da Serra do Caldeirão. No Pomarão a rota quase toca na fronteira com Espanha e entre a Zambujeira do Mar e Porto Côvo segue quase sempre junto ao mar.

Ao longo dos 750 km a Gravel Birds passa por muitas dezenas de aldeias, vilas e cidades, mas nalguns troços mais remotos serão muitos os kms a percorrer longe da civilização.

A Gravel Birds 750 tem um desnível acumulado de aproximadamente 8,000 m, com cerca de 75% de piso em gravel.

L’Abetarda 330

A L’Abetarda 330 é uma versão reduzida e mais acessível da Gravel Birds, formando um loop central e partilhando quase todo o seu traçado com a rota original. Em comparação com das duas edições passadas (em 2023 e 2024), na denominada L’Abetarda 270, esta nova versão, com sensivelmente mais 60 km, pretende afirmar-se como uma experiência de bikepacking, convergindo, assim, com o espírito do 'Gravel Birds Ultracyling'.

Os primeiros quase 40 km são comuns, separando-se da Gravel Birds 750 para se voltar a juntar pouco depois. Neste atalho, a L’Abetarda 330 evita a dureza do Vale do Guadiana.

Tal como na Gravel Birds 750, a L’Abetarda 330 também alcança a Serra do Caldeirão, embora numa quilometragem inferior e assim poupando-se à dura e mais longa travessia da serra. A L’Abetarda 330 também não percorre a costa Alentejana.

A L’Abetarda tem um desnível acumulado de aproximadamente 4000 m, com cerca de 65% de piso em gravel.

Tipo de piso

A larga maioria do percurso decorre por caminhos rurais com piso em terra batida. Os caminhos são quase sempre de piso muito regular (Grau 2 e 3), permitindo andamentos bastante rápidos. No entanto, também existem alguns troços de piso mais irregular (Grau 4 e 5), sendo recomendado usar pneus mais polivalentes (acima de 40 mm será a nossa recomendação).

Os troços em asfalto são quase sempre por estradas secundárias e com trânsito reduzido, existindo apenas um ou outro atravessamento em vias com significativo tráfego automóvel.

Num ou noutro ponto da rota será necessário levar a bicicleta à mão. Na antiga linha de comboio das Minas de São Domingos, as pontes deixaram de existir e é preciso encontrar a melhor alternativa de passagem. Junto à costa, entre a praia do Malhão e a Ilha do Pessegueiro, o caminho é de areia solta e será mais fácil empurrar a bicicleta que tentar seguir caminho a pedalar.

Localidades e serviços locais

As rotas atravessam muitas localidades, mas muitas delas são pequenas aldeias e onde os serviços de apoio para abastecimento são reduzidos ou inexistentes.

Nas vilas e cidades existe geralmente bastante oferta, mas será muito importante que cada um faça o seu devido planeamento, pois ao longo da rota existem troços com distâncias significativas por zonas remotas e sem qualquer opção de apoio.

Não existem muitas lojas especializadas em ciclismo ao longo do percurso, por isso estejam preparados para resolver a maior parte dos problemas de forma autónoma.

Zonas remotas

As rotas não atravessam desertos ou montanhas inóspitas, mas por diversas vezes se irão perguntar se ainda estão a pedalar em Portugal, principalmente na Gravel Birds 750 onde terão longas horas a pedalar em total isolamento.

Em vários pontos da rota, mas nestas zonas mais remotas em particular, a rede de comunicações móveis é escassa ou inexistente.

Desnível acumulado

O Alentejo é conhecido pelas suas extensas peneplanícies e paisagens abertas com horizontes a perder de vista, mas a Gravel Birds 750 vai muito para além desse imaginário. O constante ondulado do terreno vai deixando o seu desgaste, mas são os vales profundos que ladeiam o Guadiana e a desconhecida Serra do Caldeirão que irão fazer os maiores estragos.

O desnível acumulado foi calculado através de diversos modelos digitais de terreno e é de aproximadamente 8,000 m na Gravel Birds 750 e de 4,000 m na L’Abetarda 330.

No entanto, estes valores não deve ser considerados de forma isolada, pois são muitos os factores que afectam a dureza das rotas.

Situações de risco

No desenho das rotas foram feitas muitas opções para reduzir as situações de risco, mas o risco é também elemento inerente da aventura e nunca é possível de reduzir a zero. Os participantes devem sempre ponderar as suas decisões de modo a reduzir os factores de risco.

As linhas de água no Alentejo são frequentemente de carácter torrencial, estando praticamente secas durante grande parte do ano e com caudal bastante variável durante a época das chuvas. Todas as travessias de linhas de água são pontos de passagem usados pelas populações locais ao longo de todo o ano, mesmo quando existe algum caudal, mas as condições de segurança para a travessia deverão ser avaliadas no local por cada participante.

Os cães de guarda, que protegem rebanhos ou quintas, são bastante territoriais e não devem ser provocados. Se não for possível manter a distância para poder seguir caminho, o melhor é manter a calma, não mostrar agressividade e passar devagar ou até desmontar da bicicleta.

Vedações, portões e propriedade privada

Todos os caminhos foram previamente reconhecidos e foram considerados de livre passagem, mas muitas vezes estes caminhos decorrem em propriedade privada.

Ao longo da rota existirão portões ou portas de vedação que poderão estar fechados. Sempre que alguma porta estiver fechada deverão abrir, passar e voltar a fechar. Estas portas servem para confinamento de gado e deverão sempre deixá-las como estavam.

Pernoita

Ao longo das rotas a quantidade de opções de alojamento será bastante variável. Nas vilas, cidades ou ao longo do litoral é relativamente fácil encontrar alojamento, mas existem troços bastante longos onde não é fácil encontrar uma cama para dormir.

Se a opção for pernoitar em bivaque mais ou menos improvisado, em boa parte das aldeias do interior existem lavadouros públicos (quase sempre já desactivados) que oferecem condições perfeitas para dormir umas horas: chão limpo, um tecto e (com sorte) uma torneira ainda com água corrente.

Checkpoints

O controlo dos participantes ao longo da rota é feito através dos trackers GPS, mas adicionalmente existem vários checkpoints ao longo da rota. Para ser considerado “finisher”, cada participante deverá chegar a cada checkpoint antes da respectiva barreira horária e carimbar o seu brevet card.

A narrativa da paisagem

As rotas do Gravel Birds não foram desenhadas ao acaso: os caminhos escolhidos contam uma história e muitas outras histórias dentro dela.

A sequência das paisagens, as dificuldades, os estradões de gravilha perfeita, a melancolia e a solidão, as vilas e as cidades, as aldeias remotas e quase desertas, as ruínas de passados próximos e de passados distantes, as pastagens, os montados, as serras, as praias e as arribas marítimas, as aldeias turísticas e as aldeias piscatórias: tudo isto conta a história de um povo, de um território que é maior que a soma das suas partes.

E as dificuldades do percurso também não foram ali colocadas de forma gratuita ou aleatória, são parte desta narrativa e recriam as agruras do próprio território, tal como as suas gentes as viveram desde tempos imemoriais.

As aves de Castro Verde

As paisagens alentejanas são compostas por uma enorme biodiversidade. Apesar da aparente monotonia dos montados, das pastagens e das estepes cerealíferas, estes ecossistemas albergam uma incrível diversidade de plantas e animais, com natural destaque para as aves pela sua grande importância de conservação.

Um pouco por todo o Alentejo ocorrem aves com estatuto prioritário de conservação, mas é nos campos em torno de Castro Verde que se concentram algumas das espécies mais emblemáticas, tendo motivado o reconhecimento deste território como Reserva da Biosfera pela UNESCO.

O Gravel Birds nasceu da nossa paixão por este imenso território, da nossa paixão pelos seus valores naturais e da nossa paixão pela exploração do desconhecido.

A Reserva da Biosfera de Castro Verde (UNESCO) constitui a mais importante área de estepe cerealífera de Portugal e é uma das mais representativas da Península Ibérica e de toda a Europa.

Este ecossistema é uma das paisagens rurais mais ameaçadas da região mediterrânica e é reconhecida nacional e internacionalmente pela sua importância para a preservação de diversas de aves, como por exemplo a magnífica Abetarda (Otis tarda), o Peneireiro das Torres (Falco naumanni), o Sisão (Tetrax tetrax), o Cortiçol de Barriga Negra (Pterocles orientalis) ou o Tartaranhão Caçador (Circus pygargus).

Ao percorrer as rotas do Gravel Birds irás muito provavelmente cruzar-te com várias destas espécies ameaçadas de aves, por isso mantém sempre a distância, aprecia o momento e evita causar qualquer perturbação.